SÃO PAULO é sempre mais do que parece...
Publish date 25-01-2014
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O texto a seguir, gentilmente escrito para o nosso blog por Marília Bonas, historiadora e diretora do Museu da Imigração, faz uma viagem pela história de São Paulo – e, consequentemente, pela história do mundo todo. Embarque com a gente nessa viagem e descubra que, para resgatar a identidade dessa cidade e torná-la um lugar melhor, precisamos passar pela aceitação do diferente, do outro... Até porque, em São Paulo, “os outros” somos todos nós!
São Paulo, 460 anos
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Nessa vida colonial, tupis, guarulhos, portugueses, espanhóis, religiosos, exploradores, líderes e membros de grupos viviam uma constante relação de espanto, negociação, troca e rejeição, absorção e exclusão cultural.
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O café, origem de uma nova riqueza, antes plantado por escravos, passa a ser cultivado por europeus e asiáticos trazidos pelo governo num projeto político e ideológico. A essa cidade canteiro de obras, somam-se novas línguas e hábitos daqueles imigrantes que não foram para fazendas. Ofícios, estabelecimentos comerciais, casas operárias, imprensa – novos ares e frentes de trabalho pra uma nova metrópole.
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Mas os novos membros dessa sociedade não foram inicialmente tão bem aceitos quanto parece em seus primeiros anos: isolados, ainda que em grande número, “carcamanos” e “amarelos”, dentre outros, formaram núcleos de sociabilidade que não dialogavam com a São Paulo tradicional – que por sua vez, não reconhecia e não reconhece suas matrizes indígenas e africanas.
No entanto, diferentemente dos escravos alforriados e seus descendentes, muitos desses imigrantes tiveram ferramentas para prosperar e, na medida em que ascendiam economicamente, ampliavam seu círculo de relações e sua aceitação na cidade – imersa no desejo de se aproximar das cidades europeias. É nessa época, nas primeiras décadas do século XX, que São Paulo passa a se enxergar como metrópole, na riqueza e no conflito de muitas culturas em um mesmo território.
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Fadada a um grau de generosidade por seu caráter multicultural, a cidade absorveu influências de diversas nacionalidades em suas práticas e hábitos, tornando-se uma enorme e ímpar colcha de retalhos. E além da riqueza e beleza da diversidade, a tensão e o estranhamento, em diferentes escalas e contextos, nunca deixaram de existir.
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Não há uma resposta única para tal pergunta. Acredito pessoalmente que São Paulo, na prática, é sempre mais do que parece. E nosso desafio como cidadão nesse território-palimpsesto*, historicamente diverso e contraditório, é criar uma cidade baseada na equidade, ou seja, na construção da semelhança pela diferença. Assim, enriquecida e empoderada verdadeiramente pelas múltiplas culturas, São Paulo, em seus (mais de) 460 anos de história, poderá ser mais justa e fraterna.
Marília Bonas, 24/01/2014
*palimpsesto: papiro ou pergaminho cujo texto primitivo foi raspado, para dar lugar a outro (Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).
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