O ano que eu desejaria

Publish date 08-01-2010

by ARSENAL DA ESPERANÇA

Gostaria que os surdos ouvissem, que os cegos vissem! Mas quando os surdos acreditarem ouvir, quando os cegos estiverem convencidos de ver, o que poderá acontecer... O ano que eu desejo para mim é um pesadelo que se repete periodicamente nestes dias de inicio de ano, quando me perguntam como eu gostaria que fosse o ano novo.

Não sonho mais que seja um ano de sorte, um ano de boa saúde, um ano de prosperidade, porque estes votos já fazem parte do “velho”, das pessoas surdas e cegas. Surda: se conseguissemos ouvir, por exemplo, os textos de muitas canções que os jovens e adolescentes escutam, deveríamos nos envergonhar. Cega: se víssemos a internet como tantos jovens a veem, deveríamos nos envergonhar...

Mas aqueles que deveriam se envergonhar só estão preocupados com os seus negócios, em aumentar sua conta bancaria, seu poder, seu dinheiro. Estando assim as coisas, é uma tragédia pensar com seriedade no ano que eu gostaria. É obvio que gostaria que fosse um ano de justiça, no qual ninguém morresse de fome, um ano no qual ninguém fosse preso e onde aqueles, muito ou poucos, que fossem presos, seriam reeducados pelo Estado e terminado esse período encontrassem imediatamente um trabalho.

Mas esses são os sonhos do menino que pensa que o lobo mau não existe. Fico embaraçado ao pensar no ano que eu gostaria, porque eu gostaria que ele fosse de uma forma e tantas outras pessoas o desejam ao contrario de como eu o quero. Eu gostaria que existissem somente poucos canais de televisão ao invés das centenas ou mais que existem hoje, não porque eu seja contra a democracia, a informação ou a cultura, mas porque a maioria dos canais para sobreviver deve ser extravagante ao máximo na vulgaridade, comunicar como se fosse real um mundo que não existe e assim confundir e manipular as idéias de tantas pessoas. Se tudo isso servisse para alguma coisa, diríamos viva à liberdade, mas ao invés...

O ano que eu desejaria... Com as pessoas que acompanham um pouco o nosso trabalho, eu gostaria de abrir um debate sobre que tipo de ano queremos, a condição que se trate de um ano verdadeiramente um pouco possível. Não sei que ano gostaria, porque ha pouco tempo eu visitei alguns países em guerra e me assustei imaginando as conseqüências de tanto ódio. Naqueles dias, atiraram mísseis grandes e pequenos, mas é possível que da próxima vez atirem-se bombas atômicas. E as bombas atômicas são algo fatal que se alastrará a milhares de outras situações no mundo.

Se alguém pensa que sou pessimista, engana-se muito, é que já há algum tempo coloquei os óculos para ver a realidade, não apenas aquela que sonho ou que eu imagino. Este ano será de quem o amará mais. De minha parte, o amarei perdidamente com todas as minhas forças, com toda a minha criatividade, com todas as minhas fraquezas. Se também milhares e milhares de outras pessoas o amarem perdidamente, este novo ano será um ano bom.

Até agora a maioria das pessoas não é nem fria nem quente, mas morna, isto é, indiferente. É urgente então que quem tem mais fogo positivo faça de modo que este ano seja um ano bom e positivo. Se depois o Estado de direito, a lei, a democracia não conseguirem bloquear uma minoria de pessoas sem escrúpulos, haverá sérios problemas, multiplicados pela indiferença que até hoje domina.

Eu continuarei amando perdidamente este novo ano, porque em meu caminho encontrarei homens e mulheres pelos quais vale a pena viver. Eu gostaria que esta vontade de amar os outros perdidamente se espalhasse, para que finalmente seja possível converter a escuridão. De qualquer forma o Feliz Ano Novo é dito, pensado e rezado de coração.

Ernesto Olivero

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