Lutando na igreja...
Publish date 09-03-2017
by ARSENAL DA ESPERANÇA
Descalço sobre o tatame, Douglas observa seus alunos com um olhar sério e concentrado. Os alunos, com o torso e a nuca retos e os punhos cerrados apoiados na cintura, se curvam lentos e suaves. Em seguida retornam para a posição inicial. Como em todo lugar sagrado, o silêncio é pai.
Na rua Doutor Almeida Lima, 750, centro de São Paulo, existe uma capela. São cerca de 50 metros quadrados dedicados a Nossa Senhora Aparecida. O encontro da estatueta negra pelos três pescadores nas águas do rio Paraíba completa 300 anos em 2017. Conhecida como a antiga Capelinha dos Ferroviários, começou a ser chamada recentemente de “A Praça”.
Foi com esse “apelido” que, há quatro anos, os missionários do SERMIG - Fraternidade da Esperança, junto com um grupo de jovens da paróquia homônima, “Nossa Senhora Aparecida dos Ferroviários”, lhe restituíram a vivacidade, transformando-a num ponto de encontro para as crianças, os jovens e as pessoas de todas as idades. Toda quarta-feira à noite tem oração, de sábado à tarde são organizados jogos ou ações para melhorar a vida no bairro. Há alguns meses, em toda sexta-feira tem luta. Sim, é isso mesmo, luta.
“Estou empolgada!”, exclama Daniela, a lutadora de olhos doces e maternais. “Meu marido e eu somos professores de judô e, quando conhecemos o Arsenal da Esperança através da escola na qual trabalhamos, logo nos apaixonamos. Como poderíamos ajudar? Um brilho no olhar de quem ouviu essa simples pergunta fez então nascer a ideia de começar com as aulas.”
“Sabíamos que os amigos do Arsenal não tinham condições de comprar nem o tatame nem o kimono, porque já usam os recursos para ajudar aqueles que lutam diariamente por um pedaço de pão”, explica Douglas. “Então nos mobilizamos. Um colega que estava substituindo os seus equipamentos doou o tatame. ‘De que tamanho é?’, perguntamos. ‘Cinquenta metros quadrados.’ Incrível. ‘Mas é exatamente a medida da capelinha dA Praça!’ Por enquanto é o único espaço disponível para começar esta aventura.” E foi assim que, numa sexta-feira de novembro, o espaço dA Praça se transformou também em uma escola de judô.
João Vitor, com seus sete anos, descobriu a escola por acaso: “Eu estava passando por aqui de bicicleta e nunca tinha entrado na igrejinha. A Daniela me viu e disse: ‘Vem lutar com a gente?’. A coisa mais legal foi derrubar o Douglas – um armário dez vezes maior do que eu!”, conta o nosso pequeno herói todo entusiasmado.
Nos últimos meses, cerca de vinte crianças, adolescentes e jovens saíram da comodidade de seus sofás ou das ruas e entraram em contato com novos amigos através das cambalhotas e dos golpes dessa atividade que, além de esporte, é arte.
O judô começa e termina com uma saudação ao mestre. E o mestre Douglas, grande no tamanho e no espírito, com seu sorriso aberto e sua sabedoria, diz com a alegria de quem descobriu um segredo: “Acredito que fazer esta reverência para um altar e para a imagem da Santa Aparecida seja realmente um fato inédito no judô mundial! Posso dizer que para nós esta é literalmente uma experiência única!”.
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