"Boca de rango" ou faculdade...

Publish date 19-01-2017

by ARSENAL DA ESPERANÇA

Impretérito é o que não passa. Não vence a validade, não cessa, permanece, salta aos olhos, toma cor, marca, assinala, conecta, faz sentido. Dia dezoito de janeiro deste novo 2017 foi isso. Tempo nublado na capital paulista, situação presidiária calamitosa no Norte e Nordeste do país, neve excessiva na Europa, Trump lastimável antes da posse. Será que vai chover? Provável, apressem-se! O projeto Floresta que Cresce os espera.

Cinco jovens com energia “atômica” demonstram danças circulares celtas, contam histórias de suas terras-natais. Dois do sul, uma de Fortaleza, outra de Santo André e um de Salto, interior de São Paulo. É o pessoal do Anchietanum, o Centro de Juventude da Companhia de Jesus no Brasil visitando o Arsenal da Esperança, a "casa que acolhe" na Mooca em São Paulo. A antiga hospedaria abrigou quatro milhões de imigrantes no passado e agora recebe gente do Cambuci, da República Dominicana e até dos States. Oh yeah!

Vitória, menina arretada de sagacidade, ensina o abraço de coração e recusa imitações paulistanas com tapinha apressado nas costas… Cutuca um, sacode outro e contagia no sorriso. É campeã desde nascença. Vinga, vai, vence e esperamos que um dia volte e voe alto. Já o nosso Lorenzo, padre casaluceano, loiro não é mas traz na etimologia do nome os louros que coroam sua cuca e carisma. Nomen omen.

Vamos em comboio a pé até a Escola Nova 4E. Vinte moradores do Arsenal levam suas pás e vassouras, corações e mentes e uma grande disponibilidade. A Sra. Rita, responsável pela instituição, pequenina e valente, dá as boas vindas e nos presenteia com cafézinho irrecusável e pão com manteiga fortificante.

O grupo se divide em três. Um arruma o salão de festas. Toalhas brancas deslizam por entre as mãos elegantes de um cisne negro num lago plenamente conhecido. Edmilson já trabalhou em buffet e sua destreza impressiona. O outro grupo recolhe folhas e poda plantas do lado externo. Já o terceiro sobe rampas longas enfeitadas por formigas gigantes pintadas nas paredes. O último andar está inacabado, goteja e precisa de cuidados. Varre aqui, lava a janela lá. Uma boa mangueirada no banheiro com sabão e está feito! Caixas pesadas não assustam. Cadeiras empilhadas agora reorganizadas e 120 crianças beneficiadas. 

Uma amarelinha pintada no chão de cimento cru traz a dualidade céu-inferno. Tiro a foto do “céu”. O inferno está meio apagado. O trabalho termina, as confabulações também e as vassouras, uma a uma, repousam em pé sem apoio. Mistério? O sagrado é mágico, é crença, é rito, é vassoura em pé e gente extraordinária. A garoa engrossa e a carona chega. Simbora!

Papo vai, papo vem, um almoço generoso com amigos para Epicuro nenhum botar defeito. Na espera da fila para o bandejão afloram paradoxos. Os últimos serão os primeiros ou os primeiros de agora que eram os últimos de antes não são mais últimos?  Viche... Deu nò! 

A conversa partiu do Diário de Anne Frank ao Museu da Resistência. Da preservação da memória à tentativa de deletar a verdade. Dos gostos e preferências à tentação do spoiler sobre O Menino do Pijama Listrado. Um latido, um papagaio, tudo compõe o cenário.

No pós-evento, Marco Vitale reúne o grupo de voluntários junto com a assistente social e a reflexão abre-alas. Ação sem pensamento nem registro se perde no ar. O Arsenal pode ser uma “boca de rango”, um lugar só para comer, beber e dormir. Ou então uma faculdade que forma, ensina, conduz, dá oportunidade. Volto à amarelinha do céu-inferno. Escolher é poder. Poder é saber. E você é quem sabe. 
19.01.2017 – Texto & Fotos por Nina Ratti 

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