Conversa de Natal... (Francisco Catão)

Publish date 21-12-2011

by ARSENAL DA ESPERANÇA


Quando chega o Natal, são tantas as solicitações, as mensagens e os presentes que ficamos sem saber o que ainda dizer? Sentimo-nos inclinados a nos aproximar uns dos outros. O Natal nos congrega, nos reúne, mas o que dizer?
Talvez a melhor forma de encontrar o que dizer seja de criar uma ocasião, como agora, de exprimir os sentimentos que experimentamos na festa comum. Nesse espírito, aceitei o convite para começar a expor o que me vem ao espírito.
No meu íntimo brota, antes de tudo, um sentimento de nossa proximidade uns com os outros, de simpatia e de alegria de estarmos juntos, olhando um para o outro. Morando no mesmo prédio, muitas vezes nos cruzamos sem mesmo nos cumprimentar. Gostaríamos que fosse diferente, não só por ocasião do Natal.
Participemos do clima festivo que nos envolve. Clima alimentado em grande parte pelo comércio, é verdade, mas que corresponde a alguma coisa de mais profundo, sem o que nem mesmo o comércio o conseguiria sustentar. Percebemos, embora às vezes de modo tênue, que no íntimo de cada um de nós há um desejo de paz e de alegria, sentimentos que brotam espontaneamente quando há respeito mútuo, reconhecimento recíproco e proximidade, de que poderiam nascer laços mais pronunciados de ajuda mútua e de amizade.
Esse desejo de paz e de alegria sempre existiu no coração humano, de todas as épocas e culturas. Cada uma delas a seu modo o celebrou em datas precisas, em geral ao sabor dos ciclos anuais das estações. Na tradição latina, por exemplo, em cujo seio se moldou o cristianismo, vigorava, entre outras, a festa do “sol invictus”, no dia em que o sol, no hemisfério norte, sem se deixar abater pelas trevas crescentes, renascia da profundidade da noite e tornava a crescer, até alcançar novamente seu apogeu. No dia 25 de dezembro celebrava-se então a perenidade da luz e a retomada da vida.
Os cristãos, no Império Romano, interpretaram a festa. Nesse mesmo dia passaram a celebrar o nascimento da verdade e da justiça, da alegria, da vida e da energia, que, pela fé que haviam recebido de Jesus, aquele que veio trazer a paz “aos homens amados por Deus”, que desejam o bem. A festa do sol invictus se tornou assim o Natal cristão, manifestação da vida, e se propagou nesses dois mil anos de cristianismo, revestindo-se das mais diversas formas, de acordo com a variação dos tempos e das latitudes.
No fim do primeiro milênio começou-se a dar grande importância à história de Jesus. Não custou para que se começasse a celebrar o seu nascimento no presépio, de acordo com a narrativa, evidentemente simbólica dos evangelistas Mateus e Lucas. O nome de são Francisco de Assis ficou indelevelmente ligado a esse novo estilo da festa. Até hoje o presépio é um dos mais generalizados símbolos do Natal.
Com a expansão do cristianismo para os países nórdicos, surgiram muitos outros símbolos ligados ao surgimento ou a preservação da vida. Em meio à neve, a árvore sempre verde; em meio às trevas, as luzes.
No fim do segundo milênio, em que hoje vivemos, o clima já não é mais cristão. O mundo foi desencantado, como dizem os estudiosos da cultura. A ciência se propõe a entender o cosmos na sua totalidade, surgido da explosão de uma primeira “partícula de Deus”, como dizem. A tecnologia procura tornar prazerosa quanto possível a vida humana no planeta. Mas o que se celebra é sempre a vida. Evocar o nascimento de Jesus parece até, para muitos, uma opção discutível.
Como cristão, porém, permitam-me dizer que o mais importante no nascimento de Jesus é que Ele veio para que todos nós nos relacionemos como pessoas. Que procuremos viver em paz, reconhecendo-nos uns aos outros no esforço que fazemos para viver como homens e mulheres dignos desse nome.
Com o passar dos anos nossas vidas têm, por vezes, a aparência de estarem desgastadas, até mesmo, quebradas. Mas a certeza de que Jesus nasceu e vive alimenta a esperança de com ele estarmos até a morte e com ele ressuscitarmos. Celebramos por isso a vida, até o seu último momento. Natal é viver.
Por enquanto, cultivemos a alegria de estar juntos, e desejemo-nos uns aos outros: “boas festas!”. O congraçamento nos humaniza, ilumina nossos dias e nos introduz na grande aventura de nos sentirmos bafejados pela felicidade de estar vivos e para sempre, unidos.
É o que sinto no Natal.
Francisco Catão

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